Miss. Rodrygo Gonçalves

Vejam, o Senhor, o seu Deus, põe diante de vocês esta terra. Entrem na terra e tomem posse dela, conforme o Senhor, o Deus dos seus antepassados, lhes disse. Não tenham medo nem desanimem. Dt 1:21

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A CONVERSÃO DE PAULO. Subsídio para 9ª Lição Bíblica - 1º Trimestre/2011.

Lição 9 - 1º Trimestre de 2011
Texto Bíblico
: Atos 9.1-9
Texto Áureo: Atos 9. 15-16

Paulo, sua origem e família


Para satisfazer as exigências e qualificação de propriedade exigida aos cidadãos de Tarso, subentende-se que a família de Paulo se enquadraria naquilo que chamamos hoje de classe média alta (SANDERS, 1999, p. 14). De origem benjaminta, recebeu o nome de Saulo (hb. Sha'ul). Nascido em Tarso, orgulhava-se de sua cidade: "Respondeu-lhe Paulo: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; e rogo-te que me permitas falar ao povo." (At 21.39). O nome latino Paulus lhe foi acrescentado em razão da cidadania herdada do pai (At 22.28). Tinha uma irmã que habitava em Jerusalém (At 23.16). Herdou, tudo indica do pai, a profissão de fabricante de tendas (At 18.3).

Paulo, sua educação religiosa e secular

A formação educacional religiosa de Paulo aconteceu, como todo garoto hebreu, no lar ou em uma escola ligada à sinagoga. Numa perspectiva bíblica judaico-cristã, observamos este tipo de educação nos seguintes textos:

"E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas." (Dt 6.6-9)

Percebe-se neste texto do Antigo Testamento, a participação e a importância da família na preservação dos valores espirituais e morais do povo judeu, valores que foram zelosamente guardados por Paulo.

A figura dos agentes especialmente destinados para a tarefa de ensinar surge com a instituição do sacerdócio;

"E falou o Senhor a Arão, dizendo: Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações; E para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo, E para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem falado por meio de Moisés." (Lv 10.8-11)

"No terceiro ano do seu reinado enviou ele os seus príncipes, Bene-Hail, Obadias, Zacarias, Netanel e Micaías, para ensinarem nas cidades de Judá; e com eles os levitas Semaías, Netanias, Zebadias, Asael, Semiramote, Jônatas, Adonias, Tobias e Tobadonias e, com estes levitas, os sacerdotes Elisama e Jeorão. E ensinaram em Judá, levando consigo o livro da lei do Senhor; foram por todas as cidades de Judá, ensinando entre o povo." (2 Cr 17.7-9)

Posteriormente, os profetas assumem também essa tarefa;

"E foram cinqüenta homens dentre os filhos (discípulos) dos profetas, e pararam defronte deles, de longe; e eles dois pararam junto ao Jordão." (2 Rs 2.7)

"Respondeu Amós e disse a Amazias: Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros." (Am 7.14)

Durante e após o período do cativeiro na Babilônia, surge a figura do escriba, uma classe de mestres especializados, que copiavam, interpretavam e ensinavam a Lei;

"este Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de Moisés, que o Senhor Deus de Israel tinha dado; e segundo a mão de Senhor seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira. [...] Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar e cumprir a lei do Senhor, e para ensinar em Israel os seus estatutos e as suas ordenanças." (Ed 7.6, 10)

Com o advento das grandes cidades, da escrita, das transformações técnicas, da produção excedente, da comercialização, dos inovadores pensamentos sobre política e democracia, a educação e a escola ganharam um novo formato. É no período da Grécia clássica que acontece algumas das grandes revoluções pedagógica. A pólis, no intuito de formar os seus cidadãos, criam escolas especializadas para atender as suas demandas. No geral, a criança permanece em casa, com a família, até os sete anos. Após esse período, o Estado assume a sua educação (preparo físico, educação musical, formação cívica e militar, leitura e escrita, gramática, retórica etc.).

Podemos observar, que apesar destas mudanças significativas, de onde surgem as nossas escolas modernas e as teorias pedagógicas, a Bíblia nos relata que a participação da família, em especial na formação dos valores espirituais e morais de seus filhos, ainda permaneceu nos dias de Paulo:

"trazendo à memória a fé não fingida que há em ti, a qual habitou primeiro em tua avó Loide, e em tua mãe Eunice e estou certo de que também habita em ti." (2 Tm 1.5)

"Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus." (2 Tm 3.14-15)

Sanders (idem, p. 15) sugere que devido ao fervor religioso de seus pais, sua educação não foi confiada a professores gentios. Paulo foi discípulo de Gamaliel (At 22.3), um respeitado rabino, dentre sete, aos quais era conferido o título honroso de doutores da lei. Gamaliel era da escola Hilel, que tinha um posicionamento moderado acerca de questões como às leis de sábado, o casamento e o divórcio (PFEIFFER; VOS; REA, 2006, p. 839). O doutor Gamaliel se interessava ainda pela literatura grega e incentivava os judeus a se relacionarem com os estrangeiros (SANDERES, ibid. p. 17). É provável que essa educação moderada tenha influenciado sua conduta junto as gentios após a sua conversão, tolerância essa que não foi vivida em seu trato com a igreja antes de seu encontro com Jesus (At 22.4-8).

Sua formação secular pode ter envolvido a educação filosófica normal e a retórica (CHAMPLIN, 2001, p. 121). Foi um poliglota, sendo conhecedor do hebraico, aramaico, grego e latim, podendo ter aprendido outras línguas em suas viagens missionárias.

Paulo, sua conversão

A história da conversão de Paulo é narrada em Atos 9.3-19; 22.6-21 e 26.12-18, com pequenas variações nos relatos. A data de 35 D.C. é sugerida por alguns (CHAMPLIN, idem, p. 122). Alguns críticos atribuem ao evento da conversão algum desequilíbrio mental, ataque de epilepsia, insolação ou algum tipo de transe (WILLIAMNS, 1996, p. 191; KISTEMAKER, 2006, 434). Conforme Champlin (ibdem, p. 122):

"Outros críticos supõem que o senso de culpa, reprimido durante anos, em face de suas perseguições e assassínios contra os cristãos, teria subitamente explodido em experiências pseudomísticas, o que resultou em vir a ser ele justamente o contrário do que vinha sendo, ou seja, a sua conversão. Assim sendo, ainda segundo esse ponto de vista, a experiência de Saulo poderia ter sido meramente psicológica, e não verdadeiramente mística. Ora, nesse caso, Lucas, o autor do livro de Atos, teria exagerado em suas narrativas, adornando com um colorido mais vivo a realidade da vida de Paulo."

Apesar dos questionamento de alguns críticos e eruditos modernos, a conversão de Paulo foi um fato histórico, uma realidade objetiva.

A conversão de Paulo, aparentemente súbita, teve algum evento anterior com precussor? alguns argumetam que sim:

"Enquanto as narrativas em Atos, assim como as notas nas cartas, parecem indicar sua 'súbita' conversão, alguns argumentam que certas experiências devem tê-lo preparado previamente. Seu consentimento na morte de Estevão (At 7.58-8.1), e o fervor da sua campanha de casa em casa contra aqueles do Caminho (At 8.3; 9.1-2; 22.4; 26.10, 11) dificilmente não o afetariam; sua furiosa jornada em direção a Damasco representou o clímax dos seus esforços." (PFEIFFER; VOS; REA, idem, p. 1475)

"Entretanto, creditar a conversão de Saulo à iniciativa de Deus pode, facilmente, causar mal-entendidos, e precisa receber dois esclarecimentos: a graça soberana que conquistou Saulo não foi repentina (no sentido de que não teria havido preparação anterior) nem compulsiva (no sentido de que ele não tinha opção)." (STOTT, 2003, p. 191)

Outros entendem o evento como um acontecimento súbito: "A conversão de Saulo é exclusivamente obra de Jesus por meio de súbita intervenção na vida de seu inimigo." (BOOR, 2003, p. 141)

Se súbita ou resultado de uma sequência de experiências e eventos, o fato é que a vida de Paulo foi mudada e transformada radicalmente pelo poder da Palavra do Senhor e do seu Santo Espírito.

Paulo, sua vocação e obra

"Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel;" (Atos 9.15)

Após convertido, Paulo tomou consciência de seu chamado para o serviço, Tal fato é testemunhado por ele próprio em 1 Coríntios 15.8-9, Gálatas 1.12-17, Fl 3.3-7 e 1 Timóteo 1.12-16. Sanders (idem, p. 29), compreende que "desde os primeiros dias de sua vida cristã, Paulo não somente sabia que era um veículo escolhido por meio de quem Deus comunicaria sua revelação, mas tinha uma ideia geral do que Deus havia planejado para o seu futuro [...]."

Kistemaker (idem, p. 447), nos apresenta cinco razões para a sua escolha nas tarefas que o Senhor lhe deu:

- Sua excelente instrução no judaísmo;
- Sua criação num ambiente de fala grega;
- Sua familiarização com a cultura helenista;
- Sua capacidade de contextualizar do Evangelho;
- Sua cidadania romana e conhecimento da vasta complexidade de estradas no império que facilitariam as suas viagens

M. Blaiklock (apud KISTEMAKER, idem), chega a afirmar:

"Nenhum outro homem conhecido na história daquele tempo possuía todas essas qualidades combinadas como Paulo de Tarso. É difícil imaginar algum outro lugar (além de Tarso) onde a atmosfera sadia e a História pudessem tão eficientemente produzi-las numa pessoa".

Apesar de questionado por muitos, o apostolado de Paulo foi legítimo (2 Co 11.5; G, 1.15-17).

Com um trabalho missionário de cerca de 10 anos, que alcançou a Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia, e com 13 epístolas compondo o cânon do Novo Testamento, a importância da obra de Paulo para o cristianismo é de um valor inestimável.

Deus tem o homem certo, para a obra certa.

Paulo, seu sofrimento

"pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome". (At 9.16)

A chamada para o ministério cristão é uma chamada para o sofrimento. Viver segundo a palavra de Deus e pregar esta palavra implica em muitas perseguições e dores. Paulo foi um claro exemplo dessa realidade. Em 2 Coríntios 11.24-28 alguns desses sofrimentos são listados:

- Muitos trabalhos
- Muitas prisões
- Açoites sem medidas
- Perigos de morte
- Trinta e nove chicotadas em cinco ocasiões
- Três pisas com vara
- Um apedrejamento
- Três naufrágios
- 24 hs boiando no mar
- Muitas jornadas
- Perigos de ladrões
- Perigos de rios
- Perigos de perseguições por judeus e não-judeus
- Perigos na cidade
- Perigos nos desertos
- Perigos em alto mar
- Perigos entre os falsos irmãos
- Muitos trabalhos e canseiras
- Muitas noites sem dormir
- Fome e sede muitas vêzes
- Falta de casa, comida e roupa
- Muitas preocupações com as igrejas do Senhor

Marshall (idem, p. 166) declara que "o Livro de Atos não esconde o fato de que o fiel testemunho a Jesus é uma tarefa custosa em termos do sofrimento que pode acarretar para quem leva as boas novas".

O conforto de Paulo estava em seu modo de lidar com o sofrimento: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós." (Rm 8.18)

Paulo, sua morte

Há praticamente unanimidade no fato de que Paulo terminou os seus dias em Roma (BRUCE, 2003, p. 429). Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.), em sua História Eclesiástica (2003, p. 76) escreve que:

Dessa maneira, aclamando-se publicamente como o principal inimigo de Deus, Nero foi conduzido em sua fúria a assassinar os apóstolos. Relata-se, portanto, que Paulo foi decapitado em Roma e que Pedro foi crucificado sob seu governo. E esse relato é confirmado pelo fato de que os nomes de Pedro e Paulo ainda hoje permanecem nos cemitérios daquela cidade.

O ano de 65 D.C., é uma data provável para a sua execução (CHAMPLIN, ibdem, p. 125).

Dessa forma, aquele que é considerado o maior e mais influente cristão da história, combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé (2 Tm 4.7).

A conversão de Paulo se reveste para mim de um caráter muito especial, uma vez que o ponto alto de minha conversão, no ano de 1988, aconteceu enquanto lia o capítulo 9 de Atos dos Apóstolos. Costumo dizer que juntamente com Paulo caí prostrado diante da voz, me redendo de joelhos aos pés daquele que é Senhor sobre tudo e sobre todos, que segundo a sua graça soberana escolhe os mais miseráveis pecadores para realizar a sua maravilhosa obra!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.

BRUCE, F. F. Paulo o apóstolo da graça: sua vida, cartas e teologia. São Paulo: Shedd, 2003.

CESARÉIA, Eusébio de. História eclesiástica: os primeiros quatro séculos da igreja cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 5. ed. São Paulo: Hagnos, 2001. v. 5

KISTEMAKER, Simon. Atos. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v.1

MARSHALL, I. Howard. Atos: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982.

PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

SANDERS, J. Oswald. Paulo, o líder: uma visão para a liderança cristã hodierna. São Paulo: Vida, 1999.

STOTT, John R. W. A mensagem de Atos: Até os confins da terra. São Paulo: ABU, 2003.

WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida, 1996.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Íntimo, Pessoal e Intransferível


Carlos Moreira

A lenda do Rei Artur está presente nas histórias medievais e romances britânicos. Seu reino teria se estabelecido através da resistência contra os invasores saxões no início do século VI. Reza a história que Artur teria sido o criador de uma cidade ideal, Camelot, onde a justiça e a paz imperavam.

Mas para manter a ordem, o Rei dispunha dos 12 Cavaleiros da Távola Redonda e contava ainda com a ajuda adicional de Taliesin, mas conhecido como Merlim. Na verdade, Merlim era um título dado ao sacerdote mais graduado da religião antiga, ele era um mago, um conselheiro que ajudava Artur a tomar decisões.

Estou usando a figura de Merlim não só pela sua imensa popularidade literária, mas, sobretudo, pela função que ele realizava – a de ser um “intermediário” entre o natural e o sobrenatural. Nos dias de hoje, a expressão que melhor qualificaria esta prática seria o xamanismo, pois faz uso e sincretiza experiências etnomédicas, mágicas, metafísicas, religiosas, filosóficas, transe e metamorfose. No mundo contemporâneo ele desponta como o único caminho para o desenvolvimento de uma espiritualidade universal. De forma simplista, expande a mente para perceber mistérios, busca o autoconhecimento, a religação com o sagrado, a natureza e as energias puras, além do aprendizado da sabedoria dos antigos.   

Vendo-se o povo diante dos trovões e dos relâmpagos, e do som da trombeta e do monte fumegando, todos tremeram assustados. Ficaram à distância e disseram a Moisés: "Fala tu mesmo conosco, e ouviremos. Mas que Deus não fale conosco, para que não morramos". Ex. 20:18-19
Intermediar o sagrado não é coisa nova, nem muito menos surgiu com as práticas perversas do neopentecostalismo. “Traficar influência religiosa” é algo que está presente na origem dos povos. Mudam os nomes dos representantes, de acordo com o culto ou a relgião, mas suas funções são basicamente as mesmas. Eles são xamãs, pajés, oráculos, chefes de terreiro, babalorixás, magos, profetas, feiticeiros, sacerdotes, aiatolás, dentre muitos outros. Citei os mais conhecidos para resumir a lista.
    
Pois bem, entre os Hebreus, tenho desconfiança, a prática começou no texto descrito acima. Lê-lo sem se aperceber de seu contexto sócio-histórico-cultural rouba-lhe suas implicações mais profundas. A Perícope do Sinai – pós-acontecimentos da saída do Egito – revela a manifestação sobrenatural e espantosa do Deus dos Patriarcas através de proezas e milagres realizados por intermédio de Moisés. Deus estava chamando, novamente, para junto de Si o Seu povo, para com ele estabelecer uma aliança eterna, um relacionamento.
Ora, aquela geração havia se esquecido quase que completamente quem era Eloim. Os especialistas afirmam que durante um período de aproximadamente 400 anos os Hebreus estiveram não só sob a escravidão, mas também sobre a influência do Egito, uma cultura extremamente politeísta. Eles não possuíam esperança, nem sonhos, nem alegria, existiam, não viviam, eram subvencionados por uma “ração”, como se fossem animais, pois trabalhavam em troca de comida.
Aí de repente, “do nada”, surge Moisés dizendo que vem em nome do Deus “Eu Sou”. Ele promete aquela gente a libertação do poderio incalculável do Faraó. Mas a verdade é que, em sã consciência, ninguém o levou a sério. Só depois de tudo o que “ele realizou” pela “mão” do Todo Poderoso, é que os fatos começaram a mudar de figura. A história vocês conhecem... Voltemos ao Sinai... Deus está ali, presente, Eloim os quer para Si, Ele se revela não a um, ou a outro, mas a todos! É o momento da redenção, da restauração, da libertação! E o que o povo faz diante de tal apelo, desta demonstração de amor? Empurram para Moisés a possiblidade de se restabelecer o relacionamento que, certamente, mudaria para sempre suas vidas sofridas, desgastadas, mortas.
Olho para os nossos dias... Como tudo isso é atual! Como nós delegamos a outros aquilo que deveríamos fazer. Como imaginamos que só os “escolhidos”, os “ungidos”, os “separados”, devem “subir a montanha” e ir ao encontro de Deus. Não queremos pagar o preço do relacionamento íntimo, não queremos os “40 dias” de comunhão intensa, de revelação, de conforto e de confronto, de tudo o que faz o “rosto resplandecer e a glória do Senhor se manifestar em nós e através de nós!”. Não! Quermeos a “comida pronta”, a palavra “mastigada”, é a religião dos atravessadores. Por isso boa parte do Povo de Deus vive de comer “ração”, na miséria material e espritual, continua sendo escravizado pelo “Egito” – mundo – e debaixo da opressão de “Faraó” – satanás.   

Na verdade, o que temos aqui é algo de natureza fenomenológica, ou seja, parece haver no inconsciente coletivo da humanidade uma herança comportamental que os leva a transferir a outros toda e qualquer possibilidade de interação com o sagrado. É a terceirização da espiritualidade! É como se o cara dissesse: vá lá você! Faça por mim, ore por mim, pregue por mim, seja de Deus por mim, testemunhe por mim, viva por mim, creia por mim! O problema é que Deus não nos trata no atacado, Deus nos chama a um relacionamento íntimo, pessoal e intransferível. Este serviço não dá para ser prestado, precisa ser experienciado na vida! 

Olho com tristeza a “igreja” de nossos dias. A grande maioria dos “figurões” que estão na mídia, ainda que adorados por muitos – “apóstolos”, “evangelistas”, “missionários”, “bispos” – nada mais são do que embusteiros, espertalhões, aproveitadores, valem-se da ignorância do povo e de sua boa fé para ludibriá-los. E aí vem esse negócio de "cobertura espiritual". Ai meu Deus, quanta maluquice! Eu lhe desafio a, numa exegese séria, me mostrar isso nas Escrituras. No fim, o que temos é mais um mecanismos de manipulação 
 do lado dos líderes, e de transferência de responsabilidades  –  do lado do povo. Mas há quem goste...  

Finalizo lhe dizendo que não foi a toa que Jesus, o Deus Encarnado, quando se manifestou no deserto da palestina, ainda carregava em Si o mesmo apelo do Sinai: “vinde a mim”... Chega de tanta enganação! Lembrem-se de Lutero, usando o apóstolo Pedro “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus...”. 1ª Pe. 2:9. A Cruz foi erigida, o Sangue foi aspergido, o véu foi rasgado e o Espírito derramado, Deus te fez Sacerdote, Deus te chama a entrar em Sua intimidade e chamá-lo de Pai. Não permita que atravessadores entrem neste caminho, não tercerize este privilégio, só seu, nem com homens, nem com anjos, nem com ninguém!   

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

QUANDO A IGREJA DE CRISTO É PERSEGUIDA. Subsídio para 8ª Lição Bíblica - 1º Trimestre/2011

A história da Igreja foi marcada por perseguições. O próprio Senhor Jesus, os apóstolos e todos aqueles que fielmente pregaram e viveram segundo os princípios do Evangelho foram vítimas das mais cruéis e sanguinárias ações.

A Bíblia e a história nos revelam que oração, coragem, intrepidez, fé, sabedoria, prudência e inteligência foram algumas das características e posturas adotadas por muitos na Igreja perseguida dos primeiros séculos, conduta esta que deve ser por nós imitida nos dias atuais.

As perseguições contra a Igreja se seguiram ao longo da história. Atualmente se manifestam em todo o mundo, e das mais diversas formas. Aberta ou discreta, barulhenta ou silenciosa, violenta ou sutil, legal ou ilegal, institucional ou pessoal, externa ou interna, a perseguição existe.

Para ver todo subsídio click no link abaixo:

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ASSISTÊNCIA SOCIAL, UM IMPORTANTE NEGÓCIO. 7ª Lição. Subsídio para Lição Bíblica - 1º Trimestre 2011


Lição 7 - 1º Trimestre de 2011
Texto Bíblico: Atos 6.1-7
Texto Áureo: At 4.35
O capítulo 6 e versos 1-7 nos relatam um problema surgido na comunidade cristã em Jerusalém, que provocou uma murmuração (gr. goggysmós). As ofertas eram depositadas aos "pés dos apóstolos" (At 4.34-37; 5.1-2), que com o crescimento dos discípulos começaram a ter dificuldades na administração do trabalho social, visto que estavam divididos entre este ministério, o da palavra e a oração.
A murmuração consistia no fato das viúvas gregas serem desprezadas na distribuição diária dos donativos. Boor (2003, p. 104) esclarece que "Na Antiguidade simplesmente não havia uma possibilidade de ganho próprio para as mulheres. Se uma viúva não tinha filhos que providenciassem seu sustento, ela se encontrava em grande aflição". Conforme Kistemaker (2006, p. 298):
O Novo Testamento, para não dizer o Antigo, tem muito a dizer acerca da posição e dos direitos da viúva em Israel. Muitas viúvas da Palestina do século 1º enfrentaram a pobreza, mesmo que as autoridades judaicas houvessem feito provisões para o seu sustento (por exemplo, Mc 12.42-44). Dentro da igreja prevalecia o princípio de que não deveria haver nenhum carente entre aqueles que criam. Note-se que Tiago categoriza o cuidado pelos órfãos e viúvas como parte da religião que é pura e sem mancha (Tg 1.27). Paulo também prescreve regras e ordenação: para viúvas que realmente necessitam de sustento diário; para aquelas que devem ser sustentadas pelos filhos e netos; para viúvas que têm 60 anos ou mais; para viúvas mais jovens que devem casar-se; e para mulheres crentes que devem ajudar a sustentar as viúvas (1 Tm 5.3-16).
Uma grande virtude da liderança é a capacidade de ouvir críticas sem ficar melindrado. Há líderes que não suportam críticas e questionamentos, mesmo quanto são feitos com respeito e com as melhores das intenções. Os apóstolos não ficam melindrados, e diante das críticas agem de forma objetiva, convocando a comunidade para juntos buscarem solução para o problema (BOOR, idem). Algo digno de nota em Atos é a constante participação de toda comunidade cristã em grandes decisões (1.15-26; 6.1-6; 15.6, 12, 22).
Sempre que não atentamos para as prioridades do ministério que recebemos do Senhor, estaremos passíveis de cometermos falhas, mesmo que involuntárias. Assim como no episódio aqui descrito, nos dias atuais há muitos líderes que deveriam estar ocupados com a palavra e com a oração, mas estão envolvidos com "coisas" que não deveriam ser prioritárias em sua atividade ministerial, e que deveriam ser delegadas para outros. Em meu livro Estudos Bíblicos e Escritos (2010, p. 113-114), escrevi sobre a "coisificação do ministério pastoral", e reproduzo abaixo algumas questões abordadas:
Um fenômeno tem preocupado aqueles que de maneira crítica, lançam seus olhares sobre a prática pastoral na igreja evangélica brasileira. Falo da "coisificação" do ministério pastoral. Pastor virou "gestor". O pastor não dedica mais o seu tempo para cuidar de pessoas. As coisas e os negócios da igreja se tornaram prioridades. O tempo que deveria investir em oração e na leitura devocional da palavra (relação pessoal de comunicação com Deus), e na visitação (relação pessoal de comunicação com os santos), é empreendido agora na administração dos negócios, no acompanhamento das contas, nas visitas às construções e em outras vária atividades impessoais. [...] Penso ser também uma questão de reprodução de um modelo centralizador e clerical, onde o pastor é o detentor de todos os saberes e habilidades, o único apto, capaz e vocacionado para o exercício com excelência de todos os dons espirituais e ministeriais. Pobre e medíocre visão. Precisamos de um ministério pastoral mais humanizado e menos coisificado. Para isto é necessário descentralizar as tarefas e rever as prioridades do ministério pastoral no atual contexto da igreja evangélica brasileira.
Sobre isto escreveu Stott (2003, p. 135-136):
Os apóstolos não estavam ocupados demais para ministrar; eles estavam preocupados com o ministério errado. O mesmo acontece com muitos pastores. Em vez de se concentrarem no ministério da palavra (que inclui pregar para a congregação, aconselhar pessoas e treinar grupos), eles se tornam superatarefados com a administração. Às vezes, a culpa é do pastor (que quer segurar todas as rédeas em suas próprias mãos) e às vezes a culpa é do povo (que exige que o pastor seja um factótum). Em ambos os casos, as conseqüências são desastrosas. O nível da pregação e do ensino caem, já que o pastor tem pouco tempo para se dedicar ao estudo e à oração.
Costumo afirmar que é notório nos dias atuais a inversão dos papéis, ou seja, temos pastores fazendo a tarefa dos diáconos, e diáconos realizando a tarefa dos pastores.
A INSTITUIÇÃO DO DIACONATO
Diante do problema, a solução encontrada pelos apóstolos foi a de convocar os discípulos para que escolhessem sete homens com as qualidades necessárias para assumirem a tarefa da distribuição diária (6.3). Estes homens deveriam ter testemunho (martyrouménous), ser cheios do Espírito (pléreis pneúmatos) e de sabedoria (sophías). Boor (Ibidem, p. 105) comenta que: "Os apóstolos não dizem por que devem ser justamente 'sete'. Contudo, nas comunidades judaicas a diretoria local geralmente era formada por sete homens, os quais eram chamados 'os sete da cidade'.
Embora o termo diáconos (gr. diaconoi) não apareça no texto, muitos estudiosos entendem que aqui foi instituído o diaconato.
É relevante também a observação que Stott (idem) faz, quando comenta acerca da importância deste trabalho social (dos diáconos) em relação ao trabalho pastoral (apóstolos):
Nenhum ministério é superior ao outro. Pelo contrário, ambos são ministérios cristãos, ou seja, meios de servir a Deus e ao seu povo. Ambos exigem pessoas espirituais, "cheias do Espírito", para exercê-los. [...] A única diferença está na forma que cada ministério assume, exigindo dons e chamados diferentes.
Marshall (2008, p. 123), escrevendo sobre esta questão, afirma que: "Não se sugere necessariamente que servir às mesas está num nível mais baixo do que as orações e o ensino; a ênfase dirige-se ao fato de que a tarefa à qual os Doze foram especificamente chamados era de testemunho e evangelização.”

Se esta verdade e realidade fossem entendidas nos dias atuais, muitos diáconos louvariam a Deus pelo que fazem, em vez de viverem reclamando, e de buscarem atividades e posições para as quais não foram vocacionados. Por outro lado, muitos presbíteros, evangelistas e pastores deixariam de olhar para os diáconos com um ar arrogante de superioridade ministerial. Tanto para o serviço ou ministério diaconal, quanto para o serviço ou ministério pastoral, é utilizado o termo grego diaconía (v. 1, 4).
A ASSISTENCIA SOCIAL NOS DIAS ATUAIS
Sempre que o tema "Ajuda aos Necessitados" é abordado, observamos algumas reações e atentamos para alguns fatos no meio evangélico brasileiro. São eles:
1. Um Grande número de alunos, professores, dirigentes e superintendentes de EBD, obreiros e membros em geral da igreja questionam as poucas ações concretas nesta área (chamada de "social");
2. Líderes de igrejas, aproveitando o tema em evidência, resolvem fazer campanhas de doações e socorro aos necessitados, para não muito tempo depois abandonarem a prática;
3. Se percebe que muitas igrejas nunca vão além da simples distribuição aleatória de cestas básicas, sem nenhum levantamento das reais necessidades dos beneficiários;
4. Uma ênfase num certo socialismo ou comunismo cristão fruto de uma interpretação equivocada do tema "Comunidade dos Bens" é dada. Interessante, é que os que defendem teoricamente esta idéia não a colocam em prática, partilhando todos os seus bens com os necessitados;
5. Irmãos, individualmente ou em "grupos", diante do descaso da "instituição" ou da "comunidade cristã" com a ajuda aos necessitados, acabam se achando no direito de administrarem os próprios dízimos e ofertas, não levando em consideração as recomendações (ou determinações) da liderança;
6. Igrejas se mobilizam para prestar socorro às vítimas de grandes catástrofes naturais em outras regiões, mas no seu dia a dia se esquecem de socorrer os seus necessitados (domésticos na fé), e os que vivem em situação de miséria na localidade onde está estabelecida;
7. Para dizer que socorrem os necessitados, algumas igrejas afirmam manter hospitais, escolas, creches, orfanatos e abrigos de idosos funcionando. Acontece que em alguns casos, as condições de atendimento e assistência são muito precárias. As pessoas lá atendidas sofrem de um grande descaso, desumanização e maltratos;
8. É afirmado ainda por alguns, que a igreja faz o trabalho social muito bem, mas sofre por não divulgá-lo. Entendo que pelo menos os membros deveriam tomar conhecimento das ações em favor dos necessitados;
9. A calamidade dos necessitados se acentua diante da ostentação e da vida regalada de algumas lideranças, através da aquisição e exibição dos símbolos capitalistas de "poder" e "status ministerial". Na versão e lógica "espirituosa" deste capitalismo selvagem (Teologia da Prosperidade e da Vitória Financeira), quanto mais o pastor ou líder ficar rico (ou pelo menos parecer), mais demonstrará o quanto o seu ministério é abençoado por Deus. Obviamente esta lógica acaba trazendo problemas para alguns líderes de igrejas na atualidade. Por exemplo, podemos citar a necessidade de um pastor precisar de "seguranças". Tal necessidade é resultado direto da ostentação já citada. Citamos ainda o receio que alguns possuem de terem seus filhos ou parentes sequestrados. Não consigo imaginar Jesus, Pedro, Paulo, João, Tomás de Aquino, Agostinho, Lutero, Calvino e outros ícones da fé precisando de seguranças particulares. Alguma (ou muita) coisa está errada. Viver dignamente do evangelho foi trocado por viver esplendorosamente do evangelho;
10. É interessante também afirmar, que diante do exposto no ponto acima, dentro de um mesmo ministério, há líderes que abusam das regalias enquanto outros passam extrema necessidade. A idéia, volto a deixar claro, não é de um socialismo ou comunismo ministerial cristão, falo sim (pois há uma série de fatores subjetivos aqui envolvidos) da necessidade de diminuir a distância "econômica", promovendo um viver digno para todos.
Obviamente, há um bom número de igrejas que fazem um trabalho relevante e exemplar de ajuda aos necessitados.

Não vai adiantar muita coisa (ou nada) tratarmos deste tema, sem refletir sobre a nossa condição (cada um deve assumir a sua responsabilidade), sem discussão, sem propostas de mudanças, sem planos e ações concretas.
Saber sobre e perceber como as coisas estão não é o suficiente. Necessário se faz mobilizar-se para que o nosso discurso religioso e piedoso (eloquência verbal) se torne carne e habite entre nós.
"Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta." (Tg 2.14-17)
Quando as coisas estão devidamente ordenadas e organizadas na igreja local, o resultado natural é o crescimento da palavra através do aumento de sua proclamação e ensino, e como resultado esperado, acontece a multiplicação do número de discípulos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOOR, Weiner de. Atos dos Apóstolos. Curitiba-PR: Esperança, 2003.

GERMANO, Altair. Estudos Bíblicos & Escritos. Recife-PE: Edição do Autor, 2010.
KISTEMAKER, Simon. Atos. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v.1

MARSHAL, I. Howard. Atos: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982.
STOTT, John R. W. A mensagem de Atos: Até os confins da terra. São Paulo: ABU, 2003.

WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida, 1996.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA IGREJA. Subsídio para 6ª Lição Bíblica - 1º Trimestre/2011


Lição 6 - 1º Trimestre de 2011
Texto Bíblico
: Atos 5.1-11
Texto Áureo: Hb12.11


O termo disciplina se origina do latim “disciplina”, que significa “ensino”, “educação”. Essa palavra se relaciona com “discípulo” (gr. mathetes).

Champlin (2001, p. 178) apresenta alguns usos específicos para o termo:

a. A manutenção de certas normas e requisitos por parte de seguidores de grupos e ideologias específicas;

b. Aponta para qualquer sistema ascético e de mortificação do corpo;

c. Está relacionado com a idéia de açoite, principalmente no contexto da vida monástica;

d. Trata dos métodos mediante os quais um modo de vida é posto em execução, bem como as penas aplicadas aos que erram;

e. O treinamento sistemático que prepara uma pessoa para alguma tarefa específica;

f. Aponta para uma matéria específica na educação formal.

Shedd (2002, p. 13-35), identifica os seguintes termos para “disciplina” no Novo Testamento:

a. Ensino (didaskalia), conforme Mt 28.20;

b. Exortação (paraklesis), conforme 1 Tm 4.13;

c. Educação (paideia), conforme Hb 12.4-11;

d. Admoestação (nouthesia), conforme 1 Co 4.14;

e. Repreensão e Convicção (elegxis; elegchos; elegmos; “expor à luz”, “convencer”, “punir”), conforme Jo 16.8;

f. Correção (orthos, “reto”; epannothosin “correção”, etc.), conforme 2 Tm 3.15-17 e Ef 4.12.

Muito esclarecedora é a abordagem de Barcley (2000, p. 119-120), no estudo sobre o termo katartizeim. Um dos seus significados no grego clássico é "ajustar, pôr em ordem, restaurar". Aplicada à disciplina cristã, fica evidente que a mesma nunca visa um mero castigo retribuidor, uma vingança contra o malfeitor. A disciplina visa "emendar" e "consertar" um indivíduo que sofreu danos e ferimentos com o seu erro.

A disciplina visa "equipá-lo" para melhor enfrentar as tentações e para enfrentar a luta e as exigências da vida. [...] Assim, ao estudarmos esta palavra, vemos que a disciplina cristã nunca é vingativa, nem retributiva, nem sádica. Sempre é construtiva. É aplicada sempre e somente com a intenção de ajudar o homem que errou a fazer o melhor."(Idem)
Conforme Andrade (1998, p. 123-124):

“[...] A correção é a essência da disciplina; o amor, a alma da correção, pois o Senhor Deus castiga a todos quanto ama, e aqueles a quem toma por filho. [...] Disciplinar não é banir; é ensinar tendo como base o amor, a justiça, a santidade e a sabedoria; é tornar o santo mais santo”.

A disciplina é percebida por Thiessen (1987, p. 312) como um meio de purificação e santificação da igreja:

A igreja primitiva praticava a disciplina eclesiástica, e a Igreja de hoje não está dispensada desta obrigação (At 5.11; Mt 18.17; 1 Co 5.6-8, 13; Rm 16.17; 2 Ts 3.6, 14; Tt 3.10, 11; 2 Jo 10). Divisões, heresias, imoralidades, etc. são mencionadas como causa para disciplina. É somente a respeito da Igreja verdadeira que será dito no dia da volta de Cristo: " cuja esposa a si mesma se ataviou" (Ap 19.7); mas a igreja local deve ser tão parecida com a Igreja verdadeira quanto for possível. Nestes dias de lassidão e frouxidão na vida da igreja, esta doutrina precisa ser de novo enfatizada.

EXEMPLOS DE DISCIPLINA NO NOVO TESTAMENTO

Por seu caráter corretivo, e não por seus efeitos, Shedd (Idem, p. 53-67) chama os exemplos abaixo de disciplina negativa:

1. O homem que cometeu incesto (1 Co 5.1-8);

2. A igreja de Corinto (1 Co 11.30-32);

3. Ananias e Safira (At 5.1-11);

4. Simão, o mágico (At 8);

5. Himineu e Alexandre (2 Co 2.17-18; 1 Tm 1.20);

6. Os hereges (Gl 1.9);

7. Os que pecam para a morte (1 Jo 5.16-17)

A Bíblia de Estudo Pentecostal em sua nota de rodapé de Hb 12.5 diz que:

A disciplina do Senhor tem dois propósitos: (a) que não sejamos, por fim, condenados com o mundo (1 Co 11.31-32), e (b) que compartilhemos da santidade de Deus e continuemos a viver uma vida santificada, sem a qual nunca veremos o Senhor (vv. 10, 11, 14).

Estes são alguns dos motivos que devem nortear a disciplina na igreja.

A Bíblia de Estudo Dake, em sua nota sobre Hb 12.6a, aponta 8 razões do quando e do porquê da correção de Deus:

1. Quando os homens se recusam a ouvir (Jó 33);

2. Quando eles cometem iniquidade (2 Sm 7.14);

3. Quando os homens provocam a Deus (Sl 6.1; 38.1);

4. Quando os homens se esquecem de Deus (Sl 89.30-32);

5. Quando os homens se recusam a julgar a si mesmos (1 Co 11.32);

6. Quando os homens se rebelam (Dt 11.2-6; Lv 23, 14.31; Nm 14);

7. Quando os homens semeiam na carne (Gl 6.7-8);

8. Quando seus filhos precisam de instrução e correção (Hb 12.5-10; Ap 3.19)

Citamos mais uma vez Shedd (Ibidem, p. 10) na conclusão deste subsídio, que declara:

Concluímos que não disciplinar os errados significa correr o risco de cair na posição de confundir a Igreja com o mundo e vice-versa. Mas a disciplina rigorosa incorre num perigo igualmente sério de cisma, dividindo irmãos e destruindo o santuário de Deus’ (i.e. a Igreja 1 Co 3.16).

COMO DISCIPLINAR (QUESTÕES ATUAIS)

A maneira de aplicar a disciplina pode colaborar com a restauração ou com a destruição do disciplinado. Algumas questões são dignas de consideração:

A padronização da disciplina. Não existe um padrão único de disciplina. Erram os que estabelecem um único padrão de disciplina (forma, tempo, etc.) para cada tipo de erro ou pecado, sem considerar as pessoas e as circunstâncias envolvidas. O pecado de Davi era para morte (Lv 20.10), mas Deus através do profeta disse “não morrerás” (2 Sm 12.13). Uma disciplina alternativa lhe foi imposta (2 Sm 12.14).

A sadimização da disciplina. Muitos sentem prazer na tristeza, sofrimento e na desgraça dos outros. Disciplinam com sadismo. Se alegram com o erro, fracasso e tragédia alheia. (Rm 12.15);

A omissão da disciplina. Não disciplinar é uma postura irresponsável e diretamente contrária ao que recomenda a Bíblia Sagrada (Hb 12.11). A omissão da disciplina acontece por vezes motivada por amizades, parentesco, condição econômica e social, posição ministerial, etc. Dessa forma, quanto mais amigo se é, quanto maior o grau de parentesco for, quanto mais dinheiro tiver, quanto mais importante for, quanto maior posição possuir, menos ou nenhuma disciplina. Leia, por exemplo, o meu artigo "O Pastor, a ovelha pobre e a ovelha rica".

A parcialização da disciplina. Pelos mesmos motivos acima citados, em alguns litígios, a parte culpada é absolvida e a inocente tida como culpada e em seguida disciplinada (punida, castigada).

A banalização da disciplina. A banalização da disciplina acontece, quando sem nenhum sinal de arrependimento ou contrição, o pecador é recebido ou integrado novamente na comunidade cristã.

Uma questão muito séria nos dias atuais é o caso de membros e líderes que ao serem disciplinados (ou entendem que serão), recorrem às ameaças e à justiça buscando ressarcimento pelos "danos morais" e "constrangimentos" sofridos. Por esta causa, a disciplina está deixando de ser aplicada na igreja, o que a médio e longo prazo produzirá um grande prejuízo espiritual e moral.

É preciso repensar a disciplina, não abusando da mesma, nem negligenciando o seu valor restaurador. É necessário aplicá-la como amor.

SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS E OBRAS CONSULTADAS

- Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD.

- Bíblia de Estudo Dake, CPAD.

- Dicionário Teológico, CPAD.

- Dicionário Vine, CPAD.

- Disciplina na Igreja, VIDA NOVA.

- Depois do Sacrifício: estudo prático da carta aos hebreus, VIDA.

- Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, HAGNOS.

-Palestras em Teologia Sistemática, IBR.

-Palavras Chaves do Novo Testemaento, VIDA NOVA

- Vocabulário Latino, LIVRARIA GARNIER.

Desejo a todos uma excelente aula para a glória de Deus!

SINAIS E MARAVILHAS NA IGREJA. Subsídio para 5ª Lição Bíblica - 1º Trimestre/2011


Os milagres, sinais e maravilhas registrados na Bíblia são reais ou não passam de narrativas mitológicas?

Os milagres, sinais e maravilhas são realidades para serem vivenciadas pela Igreja em pleno século XXI?

Para muitos estas perguntas possuem respostas óbvias, enquanto que para outros são questionáveis.

Para este subsídio click no link abaixo: